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Por Jornal Nacional


Morre, aos 83 anos, Astrud Gilberto

Morre, aos 83 anos, Astrud Gilberto

Morreu, aos 83 anos, Astrud Gilberto, a cantora que fez o mundo conhecer “Garota de Ipanema”, em inglês.

Astrud Gilberto não assistiria a essa reportagem. Ela pedia para a família e amigos deixarem longe tudo o que escreviam sobre ela. E um dos temas mais controversos foi o momento em que se tornou cantora.

Filha de um alemão e uma baiana, Astrud Evangelina Weinert se mudou para o Rio adolescente e conheceu o pessoal da Bossa Nova. Era melhor amiga de Nara Leão, que a apresentou ao guru do grupo, João Gilberto. João e Astrud se casaram meses depois.

Foi nessa época que o saxofonista americano Stan Getz descobriu o novo ritmo que surgia no Brasil e gravou a canção “Desafinado” nos Estados Unidos. Levantou a carreira dele, ganhou um Grammy, vendeu 1 milhão de cópias.

A gravadora percebeu que era vendável e importou João Gilberto e Tom Jobim para participarem de um álbum com Stan Getz. Astrud Gilberto foi junto para Nova York. As gravações foram conturbadas. Os músicos não se comunicavam bem porque João Gilberto não falava inglês.

A história que Astrud contou foi que, no hotel, João Gilberto disse que ela teria uma surpresa. Quando chegaram no estúdio em Manhattan, na hora do ensaio, como quem não quer nada, João pediu para a Astrud cantar a versão de "Garota de Ipanema" em inglês. Quando ela terminou, João disse, em um inglês que ela descreveu como de "Tarzan”: “Tomorrow, Astrud sing on record”. Assim nasceu uma cantora.

"A gravação dela de 'Garota de Ipanema' chama muita atenção do mundo todo por conta disso. Aquela voz muito suave, com aquele acento brasileiro, mesmo cantando em inglês", analisa o cantor e pesquisador Ayrton Montarroyos.

“The girl from Ipanema”, gravada em 1963, virou símbolo do Brasil moderno, urbano, que ouve música que se toca e canta baixinho para não incomodar os vizinhos.

"A Astrud ganhou na época o que se pagava a um músico por um dia de trabalho que eram US$ 120. Esse disco vendeu mais de 6 milhões de cópias e ela sequer foi citada na ficha técnica do disco, sequer é creditada no disco", conta Ayrton Montarroyos.

A canção ficou entre as cinco mais tocadas nos Estados Unidos, ganhou o Grammy, apareceu em mais de 50 filmes - como “Turma Bossa Nova", em que Astrud interpreta ela mesma. É a segunda música mais regravada do mundo. Atrás somente de “Yesterday”, dos Beatles.

A cantora gravou 17 álbuns. Eternizou também no coração americano as noites quentes estreladas ao som do violão e levou o português para o exterior.

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Em 2002, ano em que deixou os palcos, Astrud chegou ao Hall da Fama da música latina internacional.

Um dos motivos pelos quais não lia as reportagens era que Stan Getz, uma vez, a chamou de dona de casa descoberta por ele. Mas o que Astrud fez foi ajudar a criar o que é, ainda hoje, o maior símbolo musical do Brasil no mundo.

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